Conversamos com exclusividade com o diretor de Relações com Investidores da Cristal, Paulo Roberto Dantas Oliveira, para entender o mercado de atuação e saber quais são as perspectivas da empresa

Segunda maior produtora de dióxido de titânio do mundo, as ações da Cristal Pigmentos do Brasil valorizaram-se mais de 170% em 2017. Neste ano, os papéis tiveram uma alta de mais 50% e são negociados a cerca de R$22.

Millennium.Com unidades nos Estados Unidos, Inglaterra, China, França, Arábia Saudita e Austrália, a Cristal está no Brasil desde 1970 e conta com uma mina localizada na Paraíba, uma fábrica na Bahia e um escritório comercial em São Paulo para atender a América Latina.

A maior parte do lucro da Cristal é resultado da venda do dióxido de titânio – pigmento branco usado para dar cor, brilho e cobertura para diferentes produtos, como tintas, plásticos, papéis e borrachas. No entanto, a empresa ainda produz zirconita, cianita e rutilo.

Para entender o processo de fabricação, saber quem são os principais concorrentes e os potenciais da empresa, conversamos com exclusividade com o diretor de Relações com Investidores da Cristal, Paulo Roberto Dantas Oliveira.

Qual é a participação da Cristal no mercado de dióxido de titânio?

Precisamos pensar no mercado com e sem a China. Os chineses têm o maior volume de fabricação e são responsáveis por dois terços da produção mundial.

Do outro lado, temos as companhias americanas e europeias atuando nesse mercado. Olhando somente o tamanho das empresas individualmente, a Cristal Global é a segunda colocada e detém em torno de 12% do mercado mundial.

Como é determinado os preços dos produtos vendidos?

Os produtos, em geral, têm características de commodities [o preço do produto não depende do fabricante]. Por causa da relevância da China no comércio internacional, os preços são influenciados pelo mercado chinês.

Entretanto, para alguns tipos de tintas especiais as cores estão vinculadas à matéria-prima utilizada. Sendo assim, se você usa um produto da Cristal e por alguma razão muda de fabricante, provavelmente nunca terá o mesmo tom de azul usado no início. O produto funciona como um DNA da tinta e, portanto, para estes casos nem sempre o preço é o mecanismo decisório.

Tintas

A Cristal produz que tipo de tinta?

Existem duas rotas de produção. A chamada “rota cloro” – com pigmento mais finos – é utilizada para automóveis, fogões e geladeiras. Esses produtos demandam uma cobertura perfeita e compacta, com brilho à prova d’água. Por exemplo, um carro utiliza essas tintas especiais porque é importante manter a identidade visual do fabricante.

A “rota sulfato”, em termos de volume, é dominada pelos produtores chineses. Os mercados de construção civil e de plásticos são os principais compradores desse tipo de produto.

A maior parte (90%) dos produtos da Cristal usa cloro. Com exceção dos chineses, 80% dos produtores de tintas estão na “rota cloro”. Os chineses, por sua vez, utilizam o sulfato na fabricação, ou seja, focam no abastecimento do mercado de construção civil e de plástico.

Como o dólar e os preços internacionais podem impactar as receitas e as margens da Cristal?

Fortes variações nos preços internacionais dos nossos produtos ou do dólar são ruins porque o cliente fica com medo de comprar matéria-prima por um preço maior que o custo da revenda.

O ideal é a estabilidade para que o fabricante de tintas, plásticos e resinas possa planejar sua produção sem picos de custos nas compras. É importante ter um preço estável, pois fica mais fácil tratar as vendas no varejo.

Como o preço do minério de ferro afeta os custos da empresa?

A Cristal possui uma mina própria de ilmenita, que é um tipo de minério de ferro do qual se extrai o dióxido de titânio. Dessa forma, o processo produtivo da empresa é integrado verticalmente, o que possibilita uma menor dependência do preço do minério de ferro importado.

21 pensamentos

  1. E quanto a reserva de ilmenita (FeTiO₃) e o rutilo (TiO₂) da mina de Guaju, na Paraíba? Há novas descobertas? De acordo com o CPRM, no relatório de 2002:
    (fonte: http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/bitstream/doc/5034/1/Geologia_Paraiba.pdf )
    “As reservas medidas de ilmenita e rutilo, na Paraíba, estão mostradas no qua- dro 6.22. Elas vêm diminuindo de volume desde o início do projeto de concentração das areias pesadas no litoral do município de Mataraca, no início de 1980. De acordo com o DNPM, AMB 1985, as reservas de minério de ilmenita, teor de 56,99% de Ti- O2, eram de 2.768.544 t, além de 86.607 t de rutilo, teor de 96,99%. De acordo com os dados preliminares do AMB 2000, as reservas de ilmenita, no ano de 1999, re- presentavam pouco mais de 50% e as de rutilo menos de 25% das reservas existen- tes, respectivamente, em 1984.”

    Outro site ( https://www.notasgeo.com.br/2017/10/fatos-de-ida-para-o-futuro-com-titanio.html ) menciona o esgotamento da reserva de Guaju já em 2017.

    O analista Ricardo Schweitzer tb mencionou esse fato num vídeo ( https://m.youtube.com/watch?v=GVkSSDgxhw4 ). CRPG5 @ 31:27

    Vc teria mais informações sobre esse aspecto?

    Grato

    Marcos

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    1. Oi Nei,

      Num primeiro momento, essa oferta é apenas para cumprir a legislação brasileira que obriga que se faça uma OPA para adquirir as ações ordinárias (CRPG3) quando há troca de controle. Veja que apenas 0,98% das ações ordinárias serão alvo dessa OPA porque o resto já estava nas mãos do controlador. O valor ofertado é baixo porque leva em consideração os US$3,09 acordados em fevereiro de 2017.

      A segunda informação é mais relevante: eles avaliam fazer uma OPA e fechar a companhia. Nesse caso, as ações preferencias também seriam alvo da oferta.
      Se isso vier a acontecer, o preço ofertado terá que ser muito maior do que os R$ 11,84. Se não, basta os
      acionistas preferenciais não venderem suas ações e empresa continuará aberta.

      Na minha opinião, a reação do mercado foi exagerada.

      Abraço.

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    1. Obrigado Emerson!

      Se você olhar exclusivamente os números excelentes da empresa, não está descontada apesar de todos esse aumento. Mas, como o Paulo Roberto diz na entrevista, o mercado chinês tem bastante influência nos preços dos produtos.
      Na minha opinião, vale a pena ter ações da empresa numa carteira diversificada, sem que ela seja uma posição majoritária.

      Abraço.

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    1. Oi DM,

      Confesso que estou curioso para saber como essa guerra comercial EUA-China vai nos impactar.
      Como os produtos da Cristal são majoritariamente da rota cloro e, portanto, não sofrem concorrência direta com o mercado chinês, acho que o impacto tende a ser baixo.

      Abraço.

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  2. Bom dia KB!

    Creio que vale a reflexão sobre possíveis desvantagens em adquirir CRPG3, CRPG5 e CRPG6, considerando que a empresa não integra qualquer dos segmentos de governança da B3 bem como a alienação de controle da empresa (conforme fato relevante datado de 21/02/2017), após a qual haverá uma OPA das ações ordinárias nos termos da Lei das S.A., ou seja, pagando aos portadores de ações ordinárias 80% do valor pago ao controlador. Mas e os portadores de ações preferenciais?

    Abraço.

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    1. Oi FN,

      Bom ponto. Por não fazer parte dos segmentos de governança da bolsa os acionistas não devem receber a mesma proposta paga ao bloco controlador quando da alienação de controle.
      Caso seja a operação seja concluída, os acionistas minoritários portadores de ações ordinárias (representam menos de 1% do total das ordinárias) recebem oferta equivalente a 80% do valor pago ao controlador.
      Mas após a conclusão, a Cristal continua sendo uma companhia de capital aberto.
      Somente se o novo controlador decidir realizar uma OPA para fechar o capital, ele terá que oferecer uma proposta a todos os acionistas (preferenciais e ordinárias) da empresa.
      Caso a proposta desagrade os acionistas e não tenha êxito (como foi o caso da Unipar no ano passado), a Cristal segue sendo uma empresa de capital aberto.
      Na minha opinião, a alienação de controle por si só não é necessariamente um evento ruim para os acionistas preferencias. Pode, inclusive, ter impacto positivo para a empresa.

      Abraço.

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