A Unipar anunciou – no mesmo dia em que apresentou um sólido resultado do terceiro trimestre –  o início de um programa de recompra de ações.

Até maio de 2020, a empresa poderá adquirir até 1,23 milhão de ações ordinárias (UNIP3), 106 mil preferenciais classe “A” (UNIP5) e 1,16 milhão preferenciais classe “B” (UNIP6). Os números representam até 4,43%, 4,59% e 2,16% do total de cada um desses tipos de ação, respectivamente.

Até aí tudo bem.

Programas de recompras de ações são quase sempre bem recebidos pelo mercado, indicando que a companhia tem caixa para investir e – ainda mais importante – considera que suas ações estão desvalorizadas.

No caso da Unipar, contudo, a reação foi morna. Desde o anúncio, as ações preferenciais desvalorizaram 15,6%, enquanto que as ordinárias recuaram 6,2%. A diferença de preço, que por muito tempo se manteve acima de 10%, praticamente acabou:

Unipar preços

Uma possível explicação é o seu caráter desproporcional. A intenção da fabricante de soda, cloro e derivados é adquirir até 18% das ações ordinárias da companhia em circulação no mercado, enquanto que apenas 3% das preferenciais na mesma condição devem ser recompradas.

Em caso de venda do controle acionário da empresa, os detentores de ações ordinárias da Unipar têm direito a 80% do valor da oferta recebida pelo controlador. As preferenciais da empresa, por sua vez, não possuem esse benefício.

Faria sentido aos investidores detentores das preferenciais venderem suas ações para comprarem as ordinárias, explicando assim a maior queda nas ações preferenciais.

A participação dos principais acionistas nas ações ordinárias é mostrada no gráfico abaixo:

Unipar posição acionária.png

Como as ações de um dos maiores acionistas da empresa Luiz Barsi Filho não são consideradas em circulação, visto que ele participa do conselho da empresa, pouco menos de um quarto das UNIP3 – as que estão com fundos de investimentos e outros – entram na somatória.

Se os três fundos de investimentos com participação relevante resolverem não vender suas 2,6 milhões de ações, restariam apenas as 4,3 milhões nas mãos dos outros acionistas para a Unipar recomprar.

Ou seja, este programa da empresa pode adquirir mais de um quarto de todas as ações ordinárias detidas pelos acionistas minoritários, desconsiderando os fundos.

Seria esse um sinal de que uma venda está a caminho?

26 pensamentos

  1. Boa tarde KB, reli todos os comentários desse post. Notei que você manifesta certa preocupação com a PN da UNIP, diferente da Ferbasa e de pigmentos. Você acha que a UNIP pode estar se preparando para troca de controle? Ainda tenho uma parte de PN, por isso certa preocupação minha. Pelos números da empresa, a ação está muito barata ainda.

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    1. Oi Ivan,

      Confesso que no momento que escrevi o texto minha preocupação era maior com a troca de controle. Mesmo assim, eu prefiro ter apenas ações ordinárias.
      Quanto à Ferbasa, conversei com o Carlos Temporal, gerente de Relações com Investidores, que me explicou que a controlada é uma fundação que usa os dividendos para custear escolas no interior na Bahia. Portanto, eles não tem intenção de vender suas ações.
      https://kbinvestimentos.com.br/2017/06/08/kb-investimentos-entrevista-ferbasa/
      No caso da Cristal, eu preferiria ter ações ordinárias também. Esses é um dos motivos que me impedem de ter uma parcela relevante aplicada nela.

      Abraço.

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  2. KB, parece que vai vir mais emissão de ações por bonificações. Aumento de R$ 90.084.183,24 com a emissão de 7.595.473 ações. Proporção de bonificação de 1 para 11 ações. Notícia interessante e boa.

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      1. As novas ações emitidas serão distribuídas de forma gratuita e beneficiarão os acionistas proporcionalmente à participação acionária nesta data. As ações oriundas da bonificação serão creditadas à posição dos acionistas no dia 28 de dezembro de 2018.

        KB, você saberia dizer qual é o valor dessas ações recebidas em bonificação para ajuste do preço médio? Seria preço zero?

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  3. KB parabéns pelos seus posts. Realmente tem uma visão diferenciada e cirúrgica do mercado que poucos tem. Sobre a Unipar vejo um ótimo case até 2020. Além de bons dividendos pois a empresa está cada vez mais lucrativa, certamente as ações terão um impacto neste programa de recompra, principalmente a UNIP3. Estou bem posicionado nela. Na minha opinião quem tem ação PN não é sócio. Abraço e sucesso!

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  4. Pra que split, pra que bonificação, pra que aumentar a circulação de papéis, se o controlador quer mesmo é um mercado estreito para as ações de sua empresa. Assim fica mais fácil de se manipular preços. Com baixa liquidez deprecia o mercado, a troco de objetivos mesquinhos.

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  5. Se a intenção do controlador é melhorar a cotação, acho que seria mais interessante, fazerem um split para aumentar a liquidez da On. Inclusive eu gostaria de passar para ON mas fico receoso da baixa liquidez, hoje mesmo, 28/11/2018 o volume da ON foi exatamente 0, isso mesmo “zero”.

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    1. Concordo que um split aumentaria a liquidez porque diminuiria o preço do lote padrão.
      Acho que esse dado sobre o volume negociado da ON ser zero está errado. Pelo que chequei, hoje 28/11 foi negociado 4000 ações UNIP3.
      E hoje foi um dia de liquidez baixa: no dia 26, foi negociado 60,3 mil ordinárias e, no dia 27, 25,6 mil.

      Abraço.

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  6. Interessante análise KB. Parabéns mais uma vez! De fato, essa movimentação atípica chama a atenção, ainda mais considerando o episódio da OPA do ano passado. É evidente que a empresa ainda está com bons múltiplos e dados de receita e lucro melhorando e uma eventual venda não seria descartada. Fiquemos atentos.

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  7. Kb, você sabe o percentual que o Barsi possui da UNIP6? Empresa está muito lucrativa. Acho que acertaram as engrenagens. Aos preços atuais a empresa possui margem de segurança de 80%. Está ainda muito descontada. Mas a governança é que preocupa. Essa recompra desproporcional entre as 3 modalidades de ações é mais um sinal de baixa governança. A esses preços eu não vendo, mesmo com o problema de governança. Essa ação devia valer o dobro ao menos. A B3 não deveria permitir emissão de ações sem Tag along. Na verdade deveria só existir ON e em algumas empresas tipo MPLU3 deveria existir outro mecanismo de proteção do minoritário. Enquanto não mudarem, as empresas do país é que perdem e os minoritários também. Só é bom para os que fazem falcatruas.

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    1. Oi IVan,

      O Barsi tem 20% das ações preferenciais. Considerando todos os tipos de ações, ele tem 17,3%.
      Também considero a empresa descontada em relação ao preço atual. Talvez um dos motivos seja a preocupação dos investidores com a governança da empresa.
      A recompra, que costuma ser ótima para o preço da ação, acabou aumentando a preocupação.

      Proteção aos minoritários é essencial mesmo para aumentar o número de pessoas investindo na bolsa. Quero ver como vai se desenrolar o caso da Qualicorp, que decidiu pagar R$ 150 milhões para seu presidente sem consultar os acionistas.

      Abraço.

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      1. Exato KB. É muita cara de pau a Qualicorp fazer isso. Vamos ver se a B3 toma uma atitude. Como se esse cara tem mais direito ao lucro da empresa. As ações dele estão pintadas de ouro? Sobre governança questionei a Ferbasa sobre a posição dos minoritários e a importância do Tag along das PN. Sempre a mesma resposta de 3 anos atrás que já tinha visto num portal de educação financeira que preferem atuar em outras questões de governança e que nada deve mudar sobre tag along no momento. Mas que estão avaliando no médio prazo a unificação das PN com ON. Não sei o que seja isso, será UNIT? Ferbasa bem descontada, tb acredito que pelo risco do tag along das PN. Será que é tão complicado colocar tag along das PN? Ou é proposital?!

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        1. Oi Ivan,

          Pela sua descrição, eu acredito que será algo parecido com o que ocorreu com a Vale: eles definem uma taxa de conversão da PN em ON e, partir de uma determinada data, todas as ações passariam a ser ONs.
          Se isso acontecer mesmo, acho que teria um grande impacto positivo nos preços das ações.
          Veremos.

          Abraço.

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