Três episódios recentes expuseram a fragilidade das proteções deste segmento da bolsa 

Smiles

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Nesta segunda (15), a Gol Linha Aéreas Inteligentes S. A. surpreendeu o mercado com a noticia de que pretende:

  • Realizar reorganização societária para incorporar a Smiles;
  • Não renovar o contrato operacional com a empresa controlada que vence em 2032;
  • Emitir duas classes de ações preferenciais da GOL aos acionistas da Smiles, sendo que uma delas – as Ações PN Resgatáveis Gol – serão convertíveis em dinheiro após determinado prazo;
  • Por fim, migrar as ações da Gol para o Novo Mercado.

Por conta do contrato da Gol com sua controlada ser longo, de sua situação financeira da companhia ruim e da estrutura de governança corporativa entre as duas companhias tida como mais forte pelo mercado, poucos esperavam o anúncio.

Não à toa, a reação dos investidores foi enérgica: queda de 29% no ativo SMLS3 na primeira hora do pregão. Um claro sinal de que o mercado prefere vender suas ações da Smiles a esperar para receber as preferenciais da Gol em troca.

Multiplus

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A controladora da Multiplus, Latam Linhas Aéreas S.A., anunciou em Fato Relevante que:

  • Não pretende prorrogar ou renovar o Contrato Operacional firmado com a Multiplus;
  • Pretende realizar uma oferta pública unificada de aquisição de ações ordinárias de emissão da empresa (OPA) para fins de cancelamento de registro de companhia aberta e saída do novo mercado.

A notícia, apesar de já esperada por parte dos investidores, é contrária ao posicionamento recente da diretoria da empresa. Em declarações em diferentes meios de comunicação e apresentações de resultado da companhia, a Multiplus informou que “não há qualquer intenção de rompimento do acordo”.

Assim, o investidor precisou decidir, de uma hora para outra, se: pagaria para ver e continuaria acionista da empresa – mesmo sabendo que esta perderá o contrato com a Latam – e aguardaria o desfecho da OPA para fechamento de capital ou aceitaria o prejuízo e venderia a ação.

Qualicorp

Qualicorp logo

Já no início deste mês, a Qualicorp surpreendeu o mercado com o anúncio de que pagaria – incríveis – R$ 150 milhões para que o fundador da companhia,  José Seripieri Filho, não saísse da empresa nos próximos seis anos (prorrogáveis por mais dois anos) e criasse um negócio concorrente.

A reação na bolsa, mais uma vez, foi sintomática: queda de quase 30% em único dia!

Como uma decisão de tamanha importância assim não foi discutida em Assembleia Geral com os demais acionistas da empresa? Onde fica o direito dos minoritários?

Se a Qualicorp está disposta a pagar quase duas vezes seu lucro líquido trimestral para impedir a concorrência do fundador, qual é a barreira à entrada da companhia contra outros possíveis concorrentes?

Em tempo, a XP Gestão de Recursos , detentora de 9% das ações da companhia e também lesada como os investidores minoritários, contestou a decisão.

O novo Mercado

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O Novo Mercado foi lançado em 2000 com o objetivo de estabelecer um padrão superior de governança corporativa. A ideia era que as empresas que voluntariamente optassem por listar suas ações neste segmento fossem mais transparentes e garantissem uma maior proteção aos investidores minoritários.

evidências científicas, inclusive, de que a migração para o Novo Mercado traz retorno anormal para as ações. Ao listar seus ativos neste segmento, a companhia indica que adota as melhores práticas de governança para garantir os direitos dos acionistas, aumentando a confiança de possíveis investidores.

Esses dois episódios recentes, no entanto, mostram que nem neste segmento estamos livres de ações potencialmente lesivas aos investidores minoritários.

Comprar ações de empresas listadas no Novo Mercado diminui as chances, mas não impede que eventos indesejados como esses ocorram.

É preciso ficar atento!

Como dizia Beth Carvalho:

Camarão que dorme a onda leva

12 pensamentos

  1. Mais do que saber se a ação é do novo mercado ou não, também é preciso analisar quem o sócio majoritário, governança, perspectivas futuras da empresa e do setor e seus riscos, para tentar evitar desagraveis surpresas.

    Se mesmo assim acontecer algo errado uma diversificação inteligente, ajuda a não perder muito do dinheiro acumulado.

    Abraço e bons investimentos.

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  2. Muito complicado amigo!
    Gosto da qualicorp e acredito no nicho do negocio. Se eu estivesse na bolsa aproveitaria essa queda e compraria de pá! Quer saber, muito provavelmente vai ter uma OPA da qualicorp, eu colocaria umas 5x o meu preço médio e venderia o que tivesse e aceitassem nesse preço. Abraço!

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    1. Se essa estratégia desse certo, ia ser sensacional Frugal!

      Não tinha pensado na possibilidade de uma OPA da empresa. Depois desse espetáculo de desrespeito ao minoritários, acho que muito acionista aceitaria uma oferta por um preço baixo.
      Vamos ver no que vai dar o protesto na XP.

      Abraço.

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  3. Olá KB!
    A situação é muito complicada para minoritários!
    Além desses oportunismos ainda tem as notícias em páginas policiais. Nos últimos 4 anos pouquíssimas escaparam sem ao menos uma citação.
    Não é à toa que o investidor estrangeiro vê nosso mercado como puramente especulativo. Talvez nós também devêssemos…
    Grande abraço!

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  4. Olá KB. É muita cara de pau dessas companhias. Ainda temos a CVM que aliás não temos. Assim o mercado monta nos minoritários. Algum dia teremos seriedade nesse país. Não tenho a Smile em carteira, mas imagina a revolta de quem tem. Por outro lado eu tinha MPLU3 (que cai fora na sequência do anúncio) e tenho QUAL3, que ainda estou avaliando. Me pergunto, qual será a próxima a vassourar minoritários? Faltou comentar que a UNIP também tentou, mas ao menos nessa a CVM interferiu. E vejam que golpe seria dado nos minoritários. A ação na época valia 7,5reais (valor que a empresa queria pagar). Hoje vale R$42 (1 ano depois). Querem o dinheiro dos minoritários para financiar os investimentos, mas na hora de dividir os lucros, não querem dividir!! Ando mexendo na minha carteira tentando uma maior governança (se é que existe!!). Diversificação ainda acho que nos dá certa proteção até para isso.

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    1. Pois é Ivan,

      Captaram dinheiro barato principalmente de pequenos investidores, mas não os trataram como sócios da companhia.
      No caso da Unipar, na minha opinião, o fator essencial foi a união dos minoritários, inclusive do Luiz Barsi Filho, para impedir o controlador de atingir o número mínimo de ações dispostas a fechar o capital por aquele preço absurdo. Tanto é que, pouco depois, o preço disparou.
      Diversificar é preciso. Não se pode confiar uma parcela muito grande do patrimônio em uma ação. Ainda mais com episódios como esses acontecendo a todo instante.

      Abraço.

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  5. Excelente artigo!

    Na hora de comprar uma ação a variável “governança” muitas vezes é desconsiderada, tanto por não termos dados suficientes para fazer uma análise objetiva, como pela empolgação de comprar um cia, lucrativa.

    Entretanto esses cases que você trouxe mostra que, no longo prazo, a governança é tão importante quanto os resultados da companhia, de forma que devemos considerá-la com cuidado tanto em nossas análises para aquisição como para manutenção do papel.

    Abraços!

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